ARTIGOS

ÁFRICA 

O CONTINENTE MAIS JOVEM DO PLANETA

A África é o berço da humanidade que viu o nascimento do Homo sapiens. De frente para o Mediterrâneo, o Oceano Índico, o Mar Vermelho bem como o Atlântico, o continente africano viu nascer em seu solo brilhantes civilizações como a do Antigo Egito, da Núbia ou do Grande Zimbábue. Despertou interesse a todos os grandes impérios, nomeadamente o romano, o chinês e outros. As civilizações africanas, muitas vezes orais, raramente usavam a escrita para falar de si mesmas. Por isso muitas delas caíram no esquecimento durante a era da colonização europeia, que colocou o continente numa espécie de “seção vigiada”. No início do século XX, a herança, a imaginação, as formas de arte plástica africanas começaram a interessar a ocidentais como Apollinaire ou Picasso. Mas hoje o mundo inteiro descobre a grande riqueza cultural do continente africano em todos os setores: música, pintura, escultura, literatura, moda, cinema, ao mesmo tempo que festivais como o de Cartago na Tunísia, as galerias de arte da Cidade do Cabo ou de Lagos têm reputação internacional. 

Nos dias que correm e num contexto de forte demografia, permitir que o maior número possível de pessoas tenha acesso à educação, saúde e emprego são os maiores desafios deste século XXI em África.

No continente, milhões de crianças ainda não têm acesso à escola. As desigualdades são notórias no acesso aos cuidados de saúde. A malária mata mais pessoas do que em qualquer outro lugar (Nigéria, RDC, Moçambique, Uganda, etc.) e a Sida continua a dizimar as populações da África Subsaariana.

 

Muito presente na esfera social, a religião (islão, cristianismo, animismo), terá que lidar com uma nova geração de africanos abertos ao mundo. No entanto, a África é um continente jovem e dinâmico, com olhos postos no futuro. As redes sociais fervilham de vozes progressistas denunciando todas as formas de discriminação e violência, como mutilação genital feminina, escravidão ou desigualdade de gênero. Numa África multiétnica, a solidariedade, a inovação, a cultura e o desporto ultrapassam as querelas sociais e étnicas e transmitem valores positivos. Estou em crer que estamos perante um continente que está no bom caminho rumo ao progresso e em constante renascimento.

Os 54 países que constituem o continente africano estão no centro dos desafios económicos do planeta. Há muito sinônimo de subdesenvolvimento, a África é, hoje, o continente mais jovem do planeta. Aberto ao mundo, cobiçado pelas grandes potências, e em particular pela China, o continente africano dispõe dos recursos essenciais, nomeadamente para as indústrias ligadas à energia (petróleo, cobalto, etc.) e às novas tecnologias.

Essencialmente rural durante muito tempo, a população africana está agora concentrada em algumas das maiores cidades do planeta (Lagos, Cairo, Pretória, etc.) com todos os problemas de poluição, mobilidade e energia colocados pelas megacidades. Os desafios continuam enormes nas áreas de educação, saúde, telecomunicações, mas o continente começou a decolar, apesar de grandes desvantagens, muitas vezes ligadas a problemas de governança. Conectada à internet, a nova geração africana está interessada em todas as inovações em software, aplicações e na criação de start-ups.

Confio plenamente no futuro de África, por isso, procurarei acompanhar as incessantes mudanças de um continente de mais de um bilhão de habitantes, que há muito tem alimentado as fantasias do Ocidente: terras virgens e ricas, terras de abundância…

Porém, nem tudo é mar de rosas: o continente é afetado pelo aquecimento global e pela desertificação. A seca é dramática na África do Sul e inundações severas ocorrem na África Ocidental. As linhas costeiras estão a recuar devido ao aumento do nível do mar, como tem acontecido no Senegal. A acumulação de resíduos está a tornar-se um grande problema na parte subsariana do continente, para onde o mundo inteiro "exporta" o seu lixo. Afetadas pelo êxodo rural, muitas cidades africanas estão a tornar-se em grandes megalópoles incontroláveis ​​(Kinshasa, Lagos, Cairo, Pretória), onde o número da população está em constante crescimento. Outra ameaça ao meio ambiente é o desaparecimento de espécies vivas. Elefantes e rinocerontes caem sob os golpes de caçadores furtivos, à medida que a desflorestação aumenta.

Quando falamos de política africana, muitas vezes pensamos em ditadura, corrupção, massacres, oposição amordaçada, etc., sem tentarmos entender o passado colonial a que foi submetido o continente.

A descolonização deu lugar a estados cujas fronteiras vieram dividir comunidades que viviam juntas, mais ou menos em paz, originando conflitos intermináveis ​​e sangrentos como por exemplo no Sudão do Sul e na RDC. Esta violência e pobreza contribuem decisivamente para lançar os jovens nos braços de extremistas religiosos e jihadistas (Boko Haram, Shebab, Daech, AQMI) ou milícias (na região dos Grandes Lagos). Jovens que também migram à procura de uma vida melhor em outros lugares, mas a África continua a ser um manto de contrastes. Por exemplo, na África do Sul, Nelson Mandela conseguiu desmantelar pacificamente o apartheid. Alguns estados tentam conciliar o desenvolvimento econômico e social, como o Gana ou o Senegal. Também existem experiências democráticas únicas como a Tunísia. De certa forma a sociedade civil tem usado da palavra, para fazer chegar os seus anseios aos seus dirigentes, num mosaico de situações políticas complexas e mutáveis.

África é um presente de futuro melhor para a Humanidade.

Por, Djanké Waly Neto